Cavando Ideias – Temos que aprender com as plantas

Cavando Ideias – Temos que aprender com as plantas

Silvia Ferreira Lima
Fotografia de Raquel Pfutzenreuter

Silvia Ferreira Lima inaugura sua coluna “Cavando Ideias” na Expedição CoMMúsica. Textos inéditos sobre arte e cultura toda sexta-feira.

Professora, escritora e gravadora de xilo, lino, calcogravura e formas híbridas. Formada em Língua e Literatura Portuguesa pela PUC/SP; Mestre em Comunicação e Semiótica com a dissertação: O Processo Criativo de Haroldo de Campos nas Galáxias; Doutora em Artes Visuais: Poéticas pela UNICAMP, com a tese: OLHARES PARA DENTRO E PARA FORA: uma cartografia do corpo humano através da gravura. Com os seguintes livros publicados: Galáxias: o processo criativo de Haroldo de Campos pelo Círculo do Livro Editora; O Lance de Runas pelo Círculo do Livro Editora; Comunicação e Expressão através dos textos pela Editora Scortecci; Diversão ao Pé da Letra: poesia pela Editora Scortecci; O Livro da Hipnose: ou estados de consciência pela Editora Voz de Mulher

Cavando Ideias – Temos que aprender com as plantas

 Silvia Ferreira Lima

Olá! Aqui me apresento. Com alguma agilidade porque é o primeiro artigo e porque não quero cansar o leitor. Nesta coluna, vou falar sobre Arte, Literatura e Filosofia. Pode parecer bem pretencioso, mas não vejo como separar um destes campos de conhecimento dos outros. Da literatura eu sempre gostei, aliás, fui estudar Letras por causa disso e acabei virando professora. Isso porque, realmente, a minha paixão sempre foram os livros.

Assim, começo falando de livros. Um maravilhoso que chegou recentemente em mãos:  A Planta do Mundo de Stefano Mancuso. Comprei o volume lançado pela UBU Editora. Aliás, que edição primorosa! A capa e cerca de vinte ilustrações entremeadas ao texto são de autoria de Andrés Sandoval. E o livro: recente, com cheiro de novo, papel de textura agradável, não lisa nem áspera, mas com certa sinuosidade. Suspeito que o papel seja reciclado devido ao amarelado da tonalidade. Mas é adequada se pensarmos no ecossistema.

A tipografia é muito amistosa, letras de corpo 14, sem cansar a vista. O marcador com a mesma imagem da capa. E alguns brindes como um guia de plantas e uma playlist com QRCode. Que livro gostoso! Em todos os sentidos para um bom apreciador de livros. Dialoga perfeitamente com a teoria do autor. Stefano Mancuso é italiano com especialidade em neurobiologia vegetal. Além de uma escrita maravilhosa!

Ele reforça a teoria de que temos muito a aprender com a natureza. Pois nela tudo tem seu lugar e serventia. Todas as espécies interagem, muitas vezes para o benefício da outra; afinal, este é o segredo para a sobrevivência das espécies. Não a afamada competitividade antropocêntrica. Lendo Mancuso, coloquei lentes de aumento na minha visão verde e passei a abraçar árvores, canteiros e todas as formas de vida. Logo, estou pronta para abraçar outro ser humano, vendo com vantagem quaisquer diferenças. E imaginando que se pudermos reconhecer no que e como o outro pode nos ajudar e que tipo de troca podemos fazer; estamos construindo um mundo mais equilibrado, com espaço para todos. Não importam suas ideias ou características. A única proibição seria o desrespeito a todas as formas de vida.

O autor aconselha que “Para manter o funcionamento desse ciclo, a presença de plantas dentro do organismo urbano é essencial”. O que ele chama de ciclo representa a vida que levamos nas cidades. Aliás, ele reconhece que assim como nas florestas há uma junção de muitas árvores, nas cidades há muitas pessoas, que se interrelacionam, e interdependem. Uma vez que cada pessoa possui suas características e diversidades e podem exercer suas especialidades auxiliando os outros seres humanos do grupo e interagindo de forma equilibrada. Tal equilíbrio existe nas florestas, onde uma árvore pode ajudar a outra de modo que ambas possam sobreviver com equilíbrio.

Se nos aventuramos a cuidar de plantas em vasos, verificamos como cada minúsculo ser tem características diferentes e interferem na vida de outros.

Cavando Ideias - Temos que aprender com as plantas
Fotografia Silvia Ferreira Lima

Assim, o aparecimento de um formigueiro pode representar a secura da terra, de modo que as formigas, furando os espaços e cavando caminhos, trazem arejamento ao solo; que também precisa de oxigênio para ser um ambiente adequado às plantas. Fora os sais minerais: N,P,K _ Nitrogênio, Potássio e Cálcio_ justamente os elementos químicos necessários para a adubação do solo, o crescimento das plantas e o desabrochar das flores.

Faço até referência a um filme antigo, de 1979: Muito Além do Jardim com Peter Sellers e Shirley Mc Laine, direção de Hal Ashby _ que demonstra o que disse sobre o que aprendemos observando as plantas. Pois, o personagem de Peter Sellers é um homem que nasceu com deficiência e foi criado numa casa como jardineiro; a única coisa que ele conseguiu aprender. Porém, este aprendizado acabou se tornando uma metáfora de toda forma de vida. E o homem anteriormente julgado como débil mental, acabou sendo até mesmo cogitado para Primeiro Ministro na Inglaterra. Justamente porque todos viam suas palavras como metáforas e ele apenas falava do jardim, das plantas, dos seres vivos e do que aprendera cuidando de um grande jardim a vida toda.

A Planta do Mundo não é o livro de um jardineiro, mas de um neurobiólogo que recebeu o XII Prêmio Galileu de escrita literária de divulgação científica. Portanto, um grande especialista em plantas, cuja escrita nos envolve, ainda que não tenhamos estudado biologia ou botânica. Ele propõe sugestões para a melhoria de nosso modo de vida. Uma vez que vivemos num planeta finito, com gastos infinitos. Então, precisamos realmente fazer algo para mudar. Sob o risco de extinguirmos nossa própria espécie. Afinal, isso precisamos aprender com as plantas: a solidariedade e a troca de experiências, aproveitando melhor o que um pode fazer pelo outro. Precisamos aceitar os outros seres, conhecê-los e respeitar o papel que cada um tem a desempenhar nesta vida.

Como afirma Stefano Mancuso, citando Patrick Guedes, “temos que retomar a principal força que dá forma à vida, ou seja, a cooperação entre os seres vivos, que se manifesta na natureza, entre outras coisas, por meio de fenômenos de coalescência, fusão, enxerto”. Logo, quando executamos um enxerto em diferentes plantas, podemos melhorar seus frutos. É o que ele faz quando cita um enxerto realizado entre uma maçã que sobrevive em clima seco mas não fornece uma maçã saborosa e outra maçã que só dá em clima úmido mas oferece uma maçã muito saborosa. Podemos tornar a macieira resistente ao clima seco e com maçãs saborosas. Esta é uma lição de vida que no oferecem as plantas.

E este foi o livro maravilhoso que li A Planta do Mundo de Stefano Mancuso

O qual eu comecei elogiando pela forma, ou seja, pela valorização do texto que uma capa bonita ou mesmo uma ilustração primorosa pode fornecer ao leitor. Este livro fez com que eu observasse mais atentamente o quanto a imagem e o texto podem conversar, produzindo um livro ainda mais prazeroso do que a leitura do texto já oferece. Neste caso, melhor do que ler apenas o texto é ler também a imagem que dialoga com ele. Mas tratar da ilustração fica para um próximo ensaio.

YouTube da Silvia


Expedição CoMMúsica

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