Tamanho não é documento • He went to Nam

Tamanho não é documento • He went to Nam

Tamanho não é documento • He went to Nam é resenha de Monique Bonomini em sua coluna semanal na Expedição CoMMúsica. O conto de hoje é ‘Nam’, da equatoriana Maria Fernanda Ampueroe e publicado na coletânea Rinha de Galos, editora Moinhos em 2020.

 

 

Histórias que geram incômodo e desconforto, que ao final a gente não sabe dizer bem se gostou ou por que gostou, muitas vezes são as que deixam marcas mais fortes no leitor, pois fazem perdurar a sensação da leitura, pelo menos aqui é este o caso. 

Uma garota gorda, morena, de óculos, feia, esquisita e que desfruta de toda a hostilidade do ambiente escolar, naquele período da vida em que o mundo se divide em promessas de sucesso versus candidatos ao fracasso, é a forma como está apresentada a protagonista de Nam, conto da equatoriana Maria Fernanda Ampuero, incluído no livro Rinha de Galos, lançado pela Moinhos, em 2020. 

Esta menina tem sua vida transformada quando o contraponto de sua existência, Diana, linda, loura e atlética, chega dos Estados Unidos, com a mãe e o irmão, e se torna, como hoje dizem os mais jovens, sua BFF – best friend forever

Reunidas para estudar, é na sala do apartamento desta amiga que Mitch, o irmão de Diana, se junta a elas trazendo a figura do pai deles para a história, “he went to Nam”. A afirmação seria uma revelação ou um desabafo? 

Entre memórias e vinis, embalados pela emblemática People Are Strange, do The Doors, se desenrola entre eles uma cena que só a psicodelia de um rock dos anos 70 poderia inspirar. 

Tal evento imprime uma nova atmosfera na narrativa que caminha para o final com o raiar do dia seguinte. Dormidas após a noite de estudos, a dupla de garotas se prepara para seguir para o colégio, porém, fezes, urina e vômito entram em cena expurgando o alucinógeno do dia anterior, uma reviravolta que encerra o conto deixando o leitor de cara no chão. 

O espetacular nesta história é a forma como as duas culturas, a americana e a latina se aproximam e referem no tipo de abismos que as separam. O trauma tem ares mais solenes na terra do Tio Sam, enquanto a tragédia cotidiana da garota latina é retratada como algo ordinário, não merecendo muita atenção. 

Além disso, os papéis femininos, seja o da protagonista inominada, seja o de Diana ou de sua mãe, expõem o peso da expectativa e sobrecarga despejadas sobre as mulheres pela sociedade em qualquer lugar. 

Vamos sendo conduzidos pela autora em alta velocidade pelo texto em linha reta e nos parágrafos finais experimentamos a sensação de um cavalo de pau. É, de fato, uma experiência vertiginosa. 

Para quem gosta de emoções fortes, esse conto cai como uma bomba de napalm e é fruto das contemporâneas vozes literárias femininas que vêm despontando na América Latina. 

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