Tamanho não é documento • Era uma vez Plutão

Tamanho não é documento • Era uma vez Plutão

Tamanho não é documento • Era uma vez Plutão é artigo de Monique Bonomini em sua coluna quinzenal na Expedição CoMMúsica.

 

 

À beira do fim é comum aos homens sentir o ímpeto de emendar-se, lembrar-se de suas faltas, pedir perdão por elas ou simplesmente reconhecê-las, deixando o registro de algo que tenha lhes acontecido e que pôs marco em sua trajetória. 

Nosso narrador foi atormentado por um acontecimento doméstico e decide, na iminência de sua morte, contar como tudo se deu. Já na infância, devido ao seu temperamento dócil, sempre teve grande afinidade com os animais, afirmando: “No amor desinteressado de um animal, no sacrifício de si mesmo, alguma coisa há que vai direto ao coração de quem tão frequentemente pôde comprovar a amizade mesquinha e a frágil fidelidade do homem.” 

Então, na vida adulta, encontrou um equivalente na esposa e a casa deles era repleta de animaizinhos: cães, peixes, coelhos, pássaros, mesmo um macaco e dentre eles um belo e forte gato “completamente preto e excepcionalmente esperto, seu preferido entre todos, a quem chamava de Plutão e com quem viveu muitos anos de tranquilidade e companheirismo até que a bebida mudou tudo.  

A embriaguez despertava nele uma violência, que era derramada sobre a esposa e também nos animais e, por algum tempo, Plutão conseguiu fugir à agressividade do dono, contudo, a velhice um dia lhe impediu a fuga, e ele foi agarrado por um mestre transtornado, não restando outra alternativa para o gato senão a de mordê-lo para livrar-se, seu desespero não poderia ter valido castigo pior, nesta noite, a sangue frio seu mestre sacou de um canivete e lhe arrancou um olho. 

O animal, antes belo e camarada, agora zanzava fugidio com sua órbita vazia, que era um lembrete ao dono, nos momentos de sua sobriedade, da perversidade de que era capaz pela intemperança de seu comportamento, e a lembrança viva de sua iniquidade o atormentou até o ponto de cometer crime ainda pior, enlaçou o gato pelo pescoço e o pendurou no galho de uma árvore onde o bichano padeceu de vez, enforcado. 

Na mesma noite, acordou com as cortinas do quarto em chamas e todos seus pertences foram devorados pelo fogo e da casa consumida pelo incêndio sobrou de pé apenas a parede onde escorava sua cama, nela surgiu uma mancha peculiar que atraiu curiosos, supersticiosos, mas foi encarada com incredulidade pelo antigo morador. 

Refeito da tragédia por força da razão e movido por um tardio arrependimento, o irascível homem encontrou um novo gato, tão grande e belo quanto Plutão, mas não tão preto, e o levou para casa para alegria da sua esposa, mas para seu completo pavor, já que a medida que o animal se afeiçoava a ele também aumentava seu remorso e seu sono já não era o mesmo, agora perturbado por sonhos repletos de cenas de suas maldades. A angústia deu lugar ao ódio e num rompante violento ao tentar agredir o inocente felino, ele mata sua esposa que se pôs entre eles. 

Encaminhando-se para o fim, é neste ponto da história que um porão, um cadáver e o gato se unem para encerrar o tempo das maldades desse homem, que por um instante supôs que se safaria. Para saber o que acontece será preciso ler o conto O gato preto, de Edgar Allan Poe, que revelará porque o escritor era um gênio do horror. 

Convém destacar, por lembrança e referência, que Plutão é o equivalente romano a Hades, deus grego do submundo, senhor do reino dos mortos. 


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Texto anterior da coluna Tamanho não é documento, de Monique Bonomini.

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